Alessandra Abreu - Espaço Terapêutico

"Um funcionamento inadequado da psique pode causar tremendos prejuizos ao corpo, da mesma forma que, inversamente, um sofrimento corporal pode afetar a psique, pois psique e corpo não estão separados, mas sim animados por uma mesma vida." Carl Gustav Jung
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terça-feira, 10 de maio de 2011

Sobre Relacionamentos tipo "Tênis" e Relacionamentos tipo "Frescobol"









Um pouco de Filosofia e Poesia para a manhã de hoje....



Para que vocês compreendam a beleza e profundidade do título do texto, nada mais nada menos que as palavras de Rubem Alves, psicanalista e filósofo. Trecho retirado de seu livro: O melhor de Rubem Alves, da Editora Cultura.




"Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos (relacionamentos) são de dois tipos: há os casamentos do tipo "Tênis" e relacionamentos do tipo "Frescobol". Os casamentos do tipo "Tênis" são uma fonte de ressentimentos e terminam mal. Os casamentos do tipo "Frescobol" são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.


Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: 'Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: você crê que seria capaz de conversa com prazer com esta pessoa até a sua velhice? 'Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.


Sherazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã e terminam pela manhã, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente. Terminam na morte, como no filme O Império dos Sentidos. Por isso, quando sexo já estava morto na cama e o amor não se podia mais dizer através dele, Sherazade o ressucitava pela magia da palavra, começava uma longa conversa sem fim, que deveria durar Mil e Uma Noites. O Sultão se calava e escutava suas palavras como se fossem música. A música dos sons, ou das palavras, é a sexualidade da eternidade: é o amor que ressucita sempre, depois de morrer.


Há os carinhos que se fazem com o corpo e os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo 'Eu te amo'. Barthes advertia: 'Passada a primeira confissão, eu te amo não quer dizer mais nada'. É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: 'Erótica é a alma'.


Tênis é um jogo feroz. O objetivo é derrotar o adversário. E na sua derrota se revela o seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco de seu adversário, é exatamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada. Palavra sugestiva - que indica seu objetivo sádico, que é a alegria de um e a tristeza do outro.


Frescobol se parece muito com o Tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra. O erro de um, no frescobol, é um acidente lamentável que não deveria ter acontecido. E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos. A bola: são nossas fantasias, nosso sonhos em forma de palavras. Conversar é ficar batendo os sonhos de lá para cá...


Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destrui-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão. O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde. Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo a ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.


O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaço para que as bolhas de sabão do outro voem livres ao vento. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim.... "